domingo, 27 de junho de 2010

desviver

Desviver.

(Felipe Valente de Matos)

Queria ser um poeta ácido

Destes que a acidez se refaz em requinte e verso

Queria ser um poeta duro

Que de tão rijo nem sente nem mente que sente

Queria ser um poeta revolucionário

E da revolução dos versos, mais versos e mais revolução

Queria ser um poeta ardente

Sensual em rimas despropositadas e quentes

Em fim, poderia ser até um poeta irônico

Onde a palavra se faz mais que palavra e menos que ideia (séria)

Mas a acidez se foi quando o homem ficou surdo

A dureza não é mais elegante onde é geral

A revolução é o caminho mais curto ao retorno

A sensualidade não se faz... se compra

E a ironia...

(Nada tendo de mais irônico que a própria vida)

Mataram-na. Afogaram a pobre na ridícula e má ironia do viver.

Ao que parece, não existe mais poesia no mundo

Ou parece não existir mais mundo para a poesia.