sexta-feira, 8 de março de 2013

Na prática, a teoria é outra.



Na prática a teoria é outra ou na prática quem teoriza é outro?
Qualquer pessoa que se prepara para exercer a docência já se preocupou em elaborar planos de aula pautados em teorias absorvidas na aula de didática. Normalmente, tais planos são expostos para uma plateia de estudantes de graduação acostumados com os objetivos gerais e objetivos específicos da vida. Normalmente, trazem vídeos, jogos, e várias outras dinâmicas dispostas a trabalhar possibilidades cognitivas e afetivas dos temas. Toda proposta parte da superação do atraso das aulas expositivas convencionais e do fracasso do livro didático como instrumento de ensino. Pensa-se muito em transformar a história tirando-a do factual e levando para a vida do aluno, como se a construção do factual e sua seleção enquanto elemento “relevante” para o conhecimento, não se comunicasse com a própria construção do imaginário que a criança e o adolescente trazem de suas famílias.
Mas, e aí, como fica tudo isso quando a sala de aula não é composta por colegas solidários e um professor que quer devolvidas as técnicas que ele defendeu ao longo do semestre? E quando forem as crianças de 12 ou 13 anos? Universos particulares, únicos e que não aceitam ser homogeneizados? E se a sala não for mais seu território, mas o território deles? A teoria é outra?
Por mais paradoxal que pareça, existem estudantes que vão ficando experientes em educação e passam a se dedicar à fiscalização da prática de seus colegas mais velhos. Não que o conhecimento recém-absorvido na universidade não possa servir de parâmetro para novas orientações sobre o ensino, nem que o tempo de serviço dos professores em atividade seja sinônimo de bons ensinamentos para os mais novos, mas o que se ouve dos colegas que voltam do estágio, beira a covardia, pois é muito fácil aplicar uma bela atividade em uma turma que não é a “sua turma”, onde você não esteja até o pescoço atolado com as contradições da educação. É muito fácil poder usar o tempo que quiser, se não é você quem será cobrado pelo programa.
Aí acontece que você vai para lá. E aquele livro didático que você tanto quer superar deve ser usado, pois o pai pagou por ele e ele é o que vai dar segurança para o aluno. Você vai escutar o aluno perguntando que horas vai começar a aula, depois de você ter passado 40 minutos explicando como a história pode fazer parte de sua vida, mesmo, fora da escola. O imaginário sobre o que é uma aula não se desfaz do dia para a noite. Aí aquela teoria que foi para o plano de aula, como fica? Ela não cabe na escola da vida real? A escola onde você tem uma hora e vinte só com uma caneta pilot ou um giz? Cabe e sempre coube, mas cabe se aquela teoria dos bons tempos da faculdade não for pensada só de forma pragmática e funcional; cabe se os clichês que os acadêmicos adoram verbalizar forem acompanhados de uma pergunta muito simples: como?
Revoluções são feitas na prática, ali onde seu tempo para pensar é pouco e a teoria não é tão redonda quanto parece. Não adianta você ter a teoria na cabeça, se ela não educar o instinto, se ela não for dialogar com o aluno. E é nessa relação que o professor é transformador: quando consegue transformar sem esperar que as condições ideais apareçam como em um passe de mágica.
É ali, na contradição diária que a sua teoria deve ser aplicada e é ali que se pode ver quem pensou na teoria como um instrumento, não como um joguinho retórico encerrado em si.
Pode ser que na prática a teoria seja outra, ou pode ser que a teoria sempre esteve a exigir outras práticas e o professor só vai perceber quando ele estiver ali, onde a teoria não se basta e o conforto do “mais do mesmo” é mais que tentador.