quinta-feira, 14 de julho de 2011

Imagem poética ou poética da imagem

A arte tem o hábito e a vocação de reduzir os objetos do cotidiano para expandir os horizontes da percepção. A redução é a linguagem sutil que aumenta o tempo de vivência do ato e reconstrói as possibilidades da percepção do momento.
Na poesia, as palavras formam uma elipse onde a linguagem poética reduz a palavra pela forma e na forma mostra as novas possibilidades daquilo que deixa de ser algo corriqueiro, passando a tomar novas faces que continuam a ser exploradas pelas novas palavras.
O momento eleva a percepção e constrói um significado novo que expande o contexto do antigo, aplicando a nova ideia. Porém, a arte não transforma a percepção da vida, mas distrai o todo que atrapalha que vejamos a riqueza das coisas. A redução se torna, assim, a possibilidade do detalhe onde tudo é constituído, e pela constituição, a lógica de tudo.
Um objeto reduzido em seu detalhe é a fuga da forma bruta do todo, que paradoxalmente precisa ser esfacelado para ser entendido. O todo vira contexto e o detalhe, a vida que existe no objeto. A poesia resgata pelas palavras o detalhe amplia os horizontes da percepção e da contemplação. Reduz o plano e aumenta o tempo.
A fotografia, por sua vez, contrasta o universo com o foco do fotógrafo. Suas escolhas paralisam a imagem e fazem do detalhe a alma e a visão mais que possível de tudo o que é. As formas escolhidas pelo fotógrafo captam mais que os olhos, pois os olhos não sabem reduzir. Como não sabem reduzir, as palavras que não se propõe a serem poemas. A fotografia é o olhar além do olho, a percepção do homem que explica o todo pela parte e imortaliza o momento em que algo pôde ser visto, não podendo se deixar passar.
O olhar fotográfico aumenta as possibilidades de visão, pois sabe reduzir o mundo ao seu detalhe.

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