sábado, 23 de julho de 2011

Amor em três atos-palavra



I

Pela alma que cravejas no papel


Pelo sorriso que vejo em análogas formas


Tua arte indica a mim teu corpo e teu espírito


Ao teu corpo, corro com a destreza de tua palavra


Ao espírito viajo nas entrelinhas que me ofertas


Vivo cada sílaba, estribilho


Ou o que o valha


Sou amante do teu eu


Bebo cada inspiração que jorra em teus versos


Beijo seu rosto, página por página


Acaricio teu corpo a cada poema lido


Apago a luz


Celebro-te


Amo-te


ll





Querido leitor,


O quanto podes me ver em versos,


Sou a resposta de teus olhos


A sedução que escolheste a padecer


O fruto da vontade tua de amar


O sofrimento imposto e colhido por ti


Se escrevo versos que em meu nome me anunciam


Existo logo em teu peito no desejo que esmeras


Se em versos há de me amar,


Vê meus versos e sê tua paixão


Ama-me


Amando a ti.





Ill





verdade


Que escapa das mãos e faz versos


A verdade descoberta (possível)


O desejo humano


                           Sobrepondo o humano que deseja.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

cidade concreto

Quando naveguei entre pessoas e cidades
Vi concretos dinâmicos como água
Vi prédios e monumentos
Tudo era mutante (mutável)

Vitrais de igrejas
Belos e nefastos

Em cemitérios
Túmulos ornamentados:
Fins e histórias

Ao opulente prédio
Poder de uns
Indiferença de outros
Trabalho
Lazer
Para quem dorme, Marquise
Abrigo como ponte ou laje

Ruas
Ruas
Para quê tantas ruas?
Ruas de ir, de vir
De morte
De chegar
Ou de somente andar

Quando naveguei entre pessoas e cidades
Tudo tinha várias formas
E a contemplar,
O homem de concreto
                                              
Duro
Estático
Perene

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Todo verso

Acordei disperso


No espelho, reverso


De olhar inverso


Desejo perverso


Descobri:


A vida cabe no verso

quarta-feira, 20 de julho de 2011

olhos de ser






Em meus olhos não figuram formas

Se candura

Construo ternura, e beleza suponho crer

Se medo

Não vejo a forma do risco que me cerca

Construo o forte no porte que me cabe

Em meus olhos não figuram formas

Vazio, é o mundo que me mostra a face

Todas as cores são minhas

Meu, é o universo infinito dos prazeres

Se dói, é a dor de meu não querer

Em meus olhos não figuram formas

Não vejo o rosto sombrio

Não rio com a criança feliz

Não choro quando parte o amigo

Em meus olhos não figuram formas

e quando julgo e penso que vejo

quando o outro parece se fazer presente

é quando não sei mais do espelho que carrego à mente

sábado, 16 de julho de 2011

O poema que não foi

Cá estou eu a ler “profissão de fé”
Poema mal tratado e vilipendiado
Que por obra e graça de meus mestres em letras
Só lembrava parco pedaço
De tudo que nele tenho
Só lembro, de ser quadrado

Parei para ler.
Belo poema, o profissão de fé.
Andei pelos anseios pela pena e pelo cinzel
Tão bom que quis fazer igual.
Igualmente não capitolino
Queria a forma do ourives e, a ela, me lancei
Colhi palavras, pensei as rimas
Pensei
 imaginei e calculei
Mas a palavra me desobedecia
Fugia, corria e ficava onde queria
Preciso terminar em “ar”, eu dizia
Mas a palavra teimava
Queria rimar “amar” com viver intensamente
Queria rimar “sentir” com deixar-se conquistar
“Outro”, queria que rimasse com parte de nós
Lutei, relutei
Mas deixei meu poema viver.
Afinal,
Poema que imita ourives ganha forma
Poema que imita poema ganha 100 anos de perdão

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Identidade

Minha identidade não reconhece etnias
Não fala idiomas
Dos povos, só quer a vontade que o povo tem

Minha identidade não lê regras
Não se vê em grupos
Dos encontros, quer a magia da entrega e da união.

Minha identidade não sabe o que é estética
Não se afirma na arte
Dos sons e das cores, quer o desejo de ir além.


Minha identidade não está no proletário
Não sabe da política
Das lutas, busca o brilho do suor e a vitória da liberdade

Minha identidade não reconhece os países
Não sabe das fronteiras
Minha identidade
Sonha
E no sonho vive
O caminho da liberdade

ARQUITETURA DA DESTRUIÇÃO (resenha)

ARQUITETURA DA DESTRUIÇÃO:

Gênero: documentário;
Direção: Peter Cohen;
Idioma: alemão;
Produção: 1989 / 1982

Após uma breve introdução sobre a forma em que uma pequena comunidade de aldeãos se relacionava com o ideal nazista, a tomada aérea da pequena aldeia repleta de vegetação sugere de lugar isolado, por onde o ideal de pureza e suas significações começam a ser desvendados em sua origem e relação com a vida íntima de seus defensores.
O filme “corta” para o registro da celebração do “dia da cultura”. O plano é o de um expectador e as imagens ficam mais agitadas, remetendo ao dinamismo urbano onde as ideias fazem parte de uma dinâmica política e os atores sociais se mostram efervescentes na vivência da nova realidade social alemã; em detrimento, do isolamento bucólico da primeira imagem.
O registro do desfile é épico e reflete o ponto de vista de seu objetivo: a exaltação dos símbolos nazistas e da enaltecida liturgia nazista. Militares, cavalos, estandartes, personalidades públicas em tomadas alternadas com a plateia que aplaude e apoia a parada.
Ainda no desfile, temos registros que apresentam parte da problematização que irá se desenvolver ao longo do filme. A narração é acompanhada por imagens de estátuas representantes de um ideal estético, e tomadas de um ângulo inferior, o que aumenta a perspectiva em relação a seu tamanho e imponência. Vale o registro, que estas são imagens captadas com o misto propósito de informação e propaganda, sendo usadas no filme com o reconhecimento da relevância dos propósitos cinematográficos como relevantes para a compreensão não só dos fatos, mas das possibilidades de “narração” contemporâneas a eles. Desta forma, as fotografias e os vídeos oficiais explorados pelo filme remontam a própria vontade de Hitler em conferir à liturgia de seus eventos o ideal de perfeição estética.
O filme trata a ambição estética nazista em associação às projeções artísticas de Hitler e seus correligionários em uma superação da simples vivência artística enquanto elemento cultural dissociado das outras esferas da vida pública. A apropriação estética da arte é algo intrínseco ao próprio sentido da vida, sendo referenciado às ações humanas as concepções artísticas e a filosofia pela arte empregada. A própria arquitetura na pretendida nova Alemanha acompanharia a imponência no novo povo que surgiria. Um exemplo desta simbiose político-estética estaria contido na frase repleta de significados que proferiu Hitler: “só entende o nazismo, quem conhece Wagner”. O compositor é exemplificado também no filme em sua importância na composição do ideário nazista.
Em um tom documental, é retratada a posição dos artistas e teóricos partidários do nazismo quanto à mistura dos valores estéticos com a concepção de raça e saúde mental e física. Se a arte conceituava o mundo, Hitler tinha na antiguidade sua inspiração e obsessão. O ideal estético que ajudou a justificar a eugenia tem lá suas raízes e o ideal da representação de homem. A oposição à perfeição estética clássica era a arte moderna, a qual, chamavam de arte degenerada associada aos bolcheviques e aos judeus.
Quando a limpeza era associada ao ideal nazista, o povo alemão era conclamado a assimilar sua higiene pessoal ao esforço do “corpo” alemão pela purificação da raça. Pelo “bem estar estético” e pela higiene pessoal, “arquitetura da destruição” mostra, que os operários poderiam se distinguir da ideia de uma classe que os unisse. A “melhoria” nos hábitos e na higiene os elevaria à semelhança aos burgueses. Assim, teria fim qualquer conflito de classes na Alemanha.
A narração não expõe as imagens nem as descreve de forma exata. A associação entre as imagens, as músicas e a narração é feita independente, de modo que, como linguagens distintas que são passam de forma distinta as imagens que se comunicam no propósito documental do filme e na problematização das questões históricas colocadas e no desenvolvimento da auto conceituação nazista amparado em valores relativos à arte  e a forma como isso desencadeou no genocídio nazista e em sua justificativa moral.
A imagem ganha, assim, um valor não só documental / ilustrativo, como é capaz de “narrar” fatos e valores quando esmiuçadas no sentido de investigar quem as produziu ou quem as reproduziu. As intenções, as pressões sociais, as negações (no caso da negação nazista à arte moderna), a busca formal da arte e a consagração destes valores formais apontam caminhos mais que válidos para a compreensão das dinâmicas históricas do mundo em que vivemos e ajuda, acima de tudo, a reconstruir a história do mundo que não passa somente pelos grandes eventos em sua magnitude e registro. A relação do homem com a imagem nos fornece dados para entendermos quem era este homem que se relacionava com os muitos valores que as imagens podem retratar. Acima de tudo, é preciso entender o homem que participa do evento histórico para entender seus valores e anseios no sentido de reconstruir os alicerces da história e perceber que espécie de alicerces estamos a edificar.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Imagem poética ou poética da imagem

A arte tem o hábito e a vocação de reduzir os objetos do cotidiano para expandir os horizontes da percepção. A redução é a linguagem sutil que aumenta o tempo de vivência do ato e reconstrói as possibilidades da percepção do momento.
Na poesia, as palavras formam uma elipse onde a linguagem poética reduz a palavra pela forma e na forma mostra as novas possibilidades daquilo que deixa de ser algo corriqueiro, passando a tomar novas faces que continuam a ser exploradas pelas novas palavras.
O momento eleva a percepção e constrói um significado novo que expande o contexto do antigo, aplicando a nova ideia. Porém, a arte não transforma a percepção da vida, mas distrai o todo que atrapalha que vejamos a riqueza das coisas. A redução se torna, assim, a possibilidade do detalhe onde tudo é constituído, e pela constituição, a lógica de tudo.
Um objeto reduzido em seu detalhe é a fuga da forma bruta do todo, que paradoxalmente precisa ser esfacelado para ser entendido. O todo vira contexto e o detalhe, a vida que existe no objeto. A poesia resgata pelas palavras o detalhe amplia os horizontes da percepção e da contemplação. Reduz o plano e aumenta o tempo.
A fotografia, por sua vez, contrasta o universo com o foco do fotógrafo. Suas escolhas paralisam a imagem e fazem do detalhe a alma e a visão mais que possível de tudo o que é. As formas escolhidas pelo fotógrafo captam mais que os olhos, pois os olhos não sabem reduzir. Como não sabem reduzir, as palavras que não se propõe a serem poemas. A fotografia é o olhar além do olho, a percepção do homem que explica o todo pela parte e imortaliza o momento em que algo pôde ser visto, não podendo se deixar passar.
O olhar fotográfico aumenta as possibilidades de visão, pois sabe reduzir o mundo ao seu detalhe.

domingo, 10 de julho de 2011

O quadro

- O que pintas?
- Um quadro para a posteridade.
- O que é?
- Não sei. Acho que estou pintando algo que quero muito.
-Como podes não saber o que pintas se tão seguros e precisos são teus traços? Se chegares então a alguma forma, e se isso for o que desejas? Teu desejo será então póstumo à tua vontade de querer isso. Tirando, assim, o sentido de tua vontade.
-Então, deixo aqui estes traços que ainda são abstratos, e chamo meu quadro de vontade, pois será póstumo como convém, agora, que seja; sendo presente por ser o querer que tenho, torna-se, assim, a vontade de querer. Depois, penso no querer que quero.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Socorro!

Acudam! Acudam!
Dizia o grito de socorro.
Acudir de quê?
Da fome alheia, da violência e dos assaltos
Não vais me ajudar?


Acudam! Acudam!
Dizia o grito de socorro.
Acudir de quê?
Das favelas, das multas e do caos aéreo.
Não vais me ajudar?

 
Acudam! Acudam!
Dizia o grito de socorro.
Acudir de quê?
Dos mendigos, do IPTU e das crianças de rua
Não vais me ajudar?


Acudam! Acudam!
Dizia o grito desocorro.
Acudir de quê?
Do trânsito, do camelô e do mau gosto da periferia
Não vais me ajudar? 


Acudam! Acudam!
Dizia o grito de socorro.
Acudir de quê?
Das bichas, dos maconheiros e das más famílias
Não vais me ajudar? 


Acudam! Acudam!
Dizia eu:
Acudam o grito de socorro!

A verdade poética de Catarina

Com o mundo aos olhos, Catarina andava,
andava e procurava sempre andar mais.
Catarina era a criança viva de passagem por parques, ruas e escolas.
Catarina tinha olhos de ver o mundo de criança.
Catarina vivia o que via, e sentia que vivia
Catarina aprendera a verdade poética
Catarina via o silêncio entre as palavras
Catarina sabia dos, olhos os olhos que viam Catarina 
Catarina conhecia a verdade poética
A verdade dos gestos tímidos a grandeza do olhar perdido
Catarina não sabia,
Mas via do mundo
mais que a estética que o mundo dá
Catarina não sabia da beleza das coisas
Catarina sabia da beleza, a destreza que se deve dar
Sabia que de tudo o que via, via mais
Catarina andava e andava
Andava entre as flores,
Mas ,das flores, nada queria
A verdade poética de Catarina
Era a mão que plantava
A vontade do olhar e o presente da amante
Catarina
andava por homens e carros
Na visão da menina, famílias, lutas e amores
Catarina
não tinha a cidade parada dos prédios
Catarina queria o suor do trabalho, o lar e as marcas
(Quando marcas, deixadas eram)
Do operário, as lutas das massas
O uniforme e a alegria da chegada em casa.
Catarina
não via homens nem mulheres,

Catarina
tinha nas costas o caminho
caminho de quem andava a ver
Catarina cresceu
Descobriu a palavra
A palavra poiese
A palavra, de sua verdade.